Inicialmente vou colocar um texto de J. Del Grande sobre as habilidade necessárias para serem desenvolvidas com as crianças, principalmente no período da Educação Infantil. Esse texto é fornecido para os (as) alunos (as) do Curso Normal na qual discutimos cada habilidade e como podemos proceder para desenvolver isso na criança.

 

Autor: J. Del Grande
As crianças chegam ao jardim de infância com muitas noções intuitivas de espaço. Grande parte do comportamento infantil inicial é essencialmente “espacial”, pois é pré-linguístico, uma vez que os primeiros contatos exploratórios da criança com o mundo correm sem a ajuda da linguagem. 
 
Neste período, o pensamento das crianças é dominado pelas interpretações que fazem de suas experiências de ver, ouvir, tocar, mover, etc., isto é, de suas percepções de espaço.
 
 A percepção espacial é a faculdade de reconhecer e discriminar estímulos no espaço, e a partir do espaço, e interpretar esses estímulos associando-os a experiências anteriores. Oitenta e cinco por cento das informações que chegam ao corpo vindas do meio ambiente penetram em nós através do sistema visual, e a visão se desenvolve como resultado de muitas experiências acumuladas. O estudo da percepção tem raízes na psicologia, na filosofia e na física; isso pode explicar, portanto, o fato de não haver uma definição universalmente aceita, podendo haver alterações conforme a tarefa que se tenha em mãos.
 
A ausência de uma definição universal não nos impedirá, contudo, de considerar as relações entre percepção e geometria. Conforme foi resumido por Hoffer (1977, p. 92):
 
Ao que parece, a habilidade de percepção visual e os conceitos de geometria podem ser aprendido simultaneamente, uma vez que a geometria que o aluno reconheça figuras, suas relações e suas propriedades. A geometria informal poderia ser ensinada facilmente e incluída num programa de treinamento de percepção visual, de modo a melhorar a percepção visual do aluno.
 
 
                                   APRENDENDO                ◄▬        MELHORANDO A HABILIDADE
                                   CONCEITO DE GEOMETRIA        ▬►           DE PERCEPÇÃO VISUAL                           
 
  
A própria natureza das atividades matemáticas envolvidas na geometria primária faz delas o veículo ideal para aquisição de experiências de percepção visual e dá aos professores uma excelente oportunidade de observar e detectar já desde cedo o percentual de crianças com problemas. Assim, uma compreensão clara das habilidades de percepção espacial tornará possível preparar os programas de geometria e selecionar atividades que irão melhorar a percepção visual dos alunos (Del Grande, 1986).
 
HABILIDADES DE PERCEPÇÃO ESPACIAL
 
Os psicólogos talvez tenham sido os primeiros a se preocupar com o estudo da interação do indivíduo com seu meio. As pesquisas e teorias de Piaget contribuíram amplamente para o que se conhece a respeito da concepção que a criança tem de geometria espacial e de transformações geométricas (Piaget e Inheder, 1967). Mas Piaget não se preocupou, no geral, em definir construtos e em enumerar habilidades. No que se refere a identificar e testar aptidões de percepção, os pioneiros foram Frostig e Horne (1964). Em seu livro The Visual World of the Child, Eliane Vurpillot (1976) não só fornece uma descrição espacial, como também procurou integrar os diferentes pontos de vista já registrados.
 
Frostig e Horne (1964) produziram material para testes referentes às cinco primeiras das sete aptidões espaciais relacionadas abaixo, e Hoffer (1977) examinou mais duas dessas aptidões, a saber, discriminação visual e memória visual. Essas aptidões, ao que parece, são da maior importância para o desenvolvimento acadêmico.
 
1) Coordenação visual-motora;
2) Percepção de figuras em campos;
3) Constância de percepção;
4) Percepção da posição no espaço;
5) Percepção da relações espaciais;
6) Discriminação visual;
7) Memória Visual.
 
Nesta teoria, percebemos então, a preocupação e a necessidade de se trabalhar com estas habilidades. Abaixo, estarei explicando cada uma delas dando exemplos. Esse trabalho foi apresentado no Curso de Especialização que realizei na FURG – Fundação Universitário de Rio Grande em 1999. No Curso Normal exploramos atividades que desenvolvem essas habilidades de forma criativa e dinâmica. Os alunos (as) já apresentaram muitos recursos criativos que focam a exploração dessas habilidades.  Usamos alguns vídeos do Blog Na Carriola de Arquimedes que poderá ajudar a aprofundar o assunto.
 
1) COORDENAÇÃO VISUAL-MOTORA
É a habilidade de coordenar a visão com o movimento do corpo. As crianças que têm dificuldades motoras em habilidades e movimentos simples também têm dificuldades em pensar em qualquer outra coisa quando se concentram na tarefa que estão fazendo. Por exemplo, se uma criança está tendo dificuldade para ligar pontos no papel, juntar blocos de madeira para construir um sólido ou usar a régua para traçar uma reta, só o esforço já é suficiente para absorvê-la completamente. Somente quando essa coordenação se tornar habitual ela será capaz de dar toda a sua atenção ao ato de aprender ou à percepção de objetos exteriores, uma vez que seus movimentos já não exigirão grande concentração mental. Isso sugere que pensar e fazer são atos separados.
 
 
ATIVIDADE:
 
ALINHAVO COM FORMAS GEOMÉTRICAS
 
 
Descrição:
O alinhavo consiste em peças com formas geométricas em cores diferentes com vários furos nas bordas.
Material:
Madeira de espessura fina, ou papelão, ou couro, ou qualquer material firme, cordão ou cadarço.
Confecção:
Cortar o material em formas geométricas, pintar as formas com cores diferentes; furar as bordas; cortar barbantes ou selecionar vários cadarços.
Objetivos:
O alinhavo com formas geométricas tem por finalidade desenvolver a percepção visual, as semelhanças e as diferenças de formas e cores, bem como a coordenação motora.
 
2) PERCEPÇÃO DE FIGURAS EM CAMPOS
É o ato visual de identificar uma figura específica (o foco) num quadro (o campo). Ao focalizar a atenção numa figura, é preciso desconsiderar todos os marcos estranhos que a rodeiam e não se distrair com estímulos visuais irrelevantes. Vurpillot (1976) discute que em média crianças de quatro à sete anos de idade são capazes de decompor unidades de percepção em seus componentes e voltar a juntá-las em novas formas como problemas de figuras embutidas. Constatou-se que 70% das crianças com quatro anos de idade conseguem identificar figuras sobrepostas. As crianças que de início não têm percepção de figuras em campos provavelmente irão adquiri-la mediante uma intervenção adequada.
 
ATIVIDADE:
 
1) A PILHA FOI GANHANDO NOVOS CUBINHOS. OBSERVA AS MUDANÇAS
 
                                                     referencial                 1ª vez                         2ª vez                       3ª vez
 
* Quantos cubinhos a pilha ganhou na primeira vez?
* E da segunda vez?
* E da terceira vez?
* Quantos cubinhos há na primeira pilha (referencial)?
* Quantos há na última?
 
ATIVIDADE:
2) QUAL DOS SÓLIDOS A SEGUIR IREMOS OBTER SE JUNTARMOS 1 E 2?
 
                            Sólido 1                                  Sólido 2

Este Sólido?                              Este Sólido?                             Ou este Sólido?

3) CONSTÂNCIA DE PERCEPÇÃO OU CONSTÂNCIA DE FORMA E TAMANHO
É a habilidade de reconhecer que um objeto tem propriedades invariáveis, como tamanho e forma, apesar das várias impressões que pode causar conforme o ponto do qual é observado. Uma pessoa com constância de percepção, por exemplo, reconhecerá um cubo visto de um ângulo oblíquo como um cubo, embora os olhos colham uma imagem diferente quando o cubo é visto bem de frente ou de cima. Assim, a constância de percepção ajuda a pessoa a ajustar-se ao meio e dá estabilidade ao seu mundo, enfatizando a qualidade de permanência dos objetos em detrimento de sua aparência em mudança continua à medida que se movem em relação ao observador. Frostig e Horne (1964) descobriram que a constância de percepção depende em parte da aprendizagem e de experiências que são fornecidas por atividades de natureza geométrica.
 
ATIVIDADE:
1) PINTA AS FIGURAS SEMELHANTES COM A MESMA COR.
 
 
 
 
4)PERCEPÇÃO DA POSIÇÃO NO ESPAÇO

É a habilidade de terminar a relação de um objeto com outro e com o observador. A ausência dessa aptidão resulta em inversões, que constituem um dilema para os educadores da área de Matemática. Por um lado, queremos que as crianças percebam que duas figuras são iguais (isto é, congruentes) se uma é imagem da outra mediante um deslizamento, uma translação ou uma rotação. Mas, por outro lado, dizemos que b, d, p e q são diferentes. Focalizar os movimentos que transformam uma figura em outra podem ajudar as crianças a superar essa dificuldade.

 

ATIVIDADE:
 
1) VEJA AS LETRAS NO QUADRO:

* Pinta todas as letras abaixo que são semelhantes à vermelha do quadro;
* Pinta todas as demais da mesma maneira.
 
 
ATIVIDADE:
 

2) ANDRÉIA MORA NO EDIFÍCIO Nº 1, BÁRBARA NO Nº 2 E CÉLIO NO Nº 3.

 
 
CADA UM VÊ O HOSPITAL DE UM JEITO. ASSOCIE:
 

 

 
ATIVIDADE:

3) O MENINO OBSERVA OS EDIFÍCIOS

 
IDENTIFICA QUAL DAS IMAGENS ABAIXO ELE ESTÁ VENDO.

 

ATIVIDADE:

4) PLANIFICAÇÃO DE UMA MAQUETE.

Material: * Caixa de sapato ou similar; * Caixa de fósforos ou similar; * Tampas de refrigerantes; * Tesoura, cola, fita adesiva; * Lâmina de plástico; * Canetinhas. Confecção: Montar com o uso das caixas de fósforos, de remédios, etc., uma maquete de sua sala de aula, no interior da caixa de sapato. Cobrir a abertura da caixa de sapato com a lâmina de plástico e fixá-la com a fita adesiva todo o contorno da caixa. Usando as canetinhas representar na lâmina a planificação da maquete montada no interior da caixa de sapato, Objetivo: Translação das figuras e a sua representação no plano.

 

5) PERCEPÇÃO DE RELAÇÕES ESPACIAIS

É a habilidade que a pessoa tem de enxergar dois ou mais objetos em relação a si mesma ou em relação um ao outro. Para algumas tarefas está intimamente relacionada com a percepção da posição no espaço. Por exemplo, uma pessoa que tem essa habilidade vê que duas figuras são congruentes quando uma é imagem da outra mediante um deslizamento, uma translação ou uma rotação.

ATIVIDADE: Material: Caixa de Blocos Lógicos Procedimentos:

Para cada aluno participante do grupo, entregar peças dos blocos lógicos e solicitar que peguem duas figuras aleatoriamente e façam relações quanto à forma, cor, tamanho e espessura.
 

6) DISCRIMINAÇÃO VISUAL

É a habilidade de distinguir semelhanças e diferenças entre objetos. As atividades de escolher e classificar objetos e formas geométricas tal como se faz com blocos de atributos podem ajudar as crianças a aprender a discriminar visualmente. As crianças podem usar desenhos e abstrações à medida que desenvolvem sua discriminação, fazendo comparações visuais e verbais entre as coisas que veem.

ATIVIDADE: TORRE COM TRÊS DIFERENÇAS Material: Caixa de Blocos Lógicos Procedimentos:

Os alunos constroem uma torre, de tal modo que a peça de cima deverá ter três características deferentes da de baixo, e assim sucessivamente.

 

 

7) MEMÓRIA VISUAL

É a habilidade de se lembrar com precisão de um objeto que não está mais à vista e relacionar suas características com outros objetos, estejam eles à vista ou não. A maioria das pessoas retém pequena quantidade de informações visuais – cerca de cinco a sete itens – por pequenos períodos de tempo. Hoffer afirma que, grandes quantidades de informações, devemos armazená-las na memória de longo prazo através de abstrações e pensamentos simbólico.
 

ATIVIDADE: DESCOBRINDO PELO TATO Material: Caixa de Blocos Lógicos Procedimentos:

Dispor as crianças em círculo, de mãos para trás. Colocar uma peça nas mãos de cada uma. Propor que identifiquem a peça pelo tato, dizendo a forma, o tamanho e a espessura.
Observação: identificar dizendo os atributos que não tem.